Infância na educação filosófica

Ayany Priscila Pires de Souza

Resumen


Este ensaio propõe trabalhar com os conceitos de Infância e Experiência, recorrendo para tanto ao filósofo contemporâneo Giorgio Agamben, à luz de sua obra Infância e História. Além desta obra, para explorar as ideias extraídas destes dois conceitos, será utilizado o texto intitulado Infânciaentreasruínas (2010), da autora Eugénia Vilela. Este é representativo pela qualidade de sua abordagem sobre infância e experiência e pelo entrelaçamento que a autora faz entre estes conceitos em Agamben e as ideias de experiência e linguagem de outros filósofos contemporâneos.  Agamben aponta, no livro em questão, para a incapacidade do homem contemporâneo de traduzir sua vida em experiência: “assim como o homem foi privado de sua biografia, o homem contemporâneo foi expropriado de sua experiência” (2005, p. 21). Diante de tal escassez, o filósofo italiano pensa a experiência em um “novo lugar”, a infância, afirmando-a como o lugar “originário” da experiência humana. Também ocupa este lugar constitutivo de uma relação original, além da infância, a linguagem. Apesar de a infância possuir uma dimensão anterior à linguagem, “constituindo-a e condicionando-a de modo essencial” (AGAMBEN, 2005, p. 62), a linguagem coexiste com a infância resultando em um movimento onde a linguagem se coloca como lugar para a experiência tornar-se verdade. Algo representativo do texto da autora Eugénia Vilela é o exemplo que ela trabalha a partir do filme As asas do desejo(1987),de Wim Wenders. Em uma cena, a criança foi descrita como aquela que está no tempo das perguntas, a criança interrogava por que estava ali, quem era, se o que via e ouvia era apenas uma face do mundo. Pode-se dizer que a criança percebia mais coisas porque tinha riqueza de experiência, sede por tê-la, enquanto os mais velhos tinham uma pobreza de experiência, uma escassez desta. Pretende-se pensar e problematizar, neste ensaio, a relação entre infância e filosofia. A curiosidade, o espanto, a sede por experiência comum à infância (a toda infância), cada vez mais tende a ser encoberta por exigências curriculares, que levam a uma pobreza de experiência e de pensamento.Por isso, não estaria, a infância do educando sendo desfeita; sua potência de criar, experienciar e imaginar privada de agir, sobretudo nos espaços formais de educação? Como pode o professor de filosofia permitir a infância na Educação filosófica? Para pensar estas questões, precisa-se ter em mente que filosofia é ensinada. É uma filosofia com prática de ordem explicadora. Ou, a prática do filosofar como experiência viva, como criação de conceitos?  

Palavras-chave: Infância; Experiência; Formação filosófica; Educação Filosófica.



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Referencias


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