A pergunta como potência da filosofia e da educação

Darcísio Natal Muraro

Resumen


Este artigo coloca a seguinte questão para ser investigada: qual é a relação entre a pergunta, a filosofia e a educação? O objetivo é enunciar a pergunta como fonte originária, contínua e permanente do filosofar e as decorrências deste pressuposto para a educação filosófica. A pesquisa põe em questionamento o próprio ato de perguntar evidenciando nesta atitude uma das condições para o filosofar. A análise esboça uma interpretação que estabelece estreita relação entre a pergunta e a linguagem. A primeira filha da criação humana chamada linguagem é a pergunta. É pela pergunta que se desenvolve a atividade da filosofia. Ela é a alma da filosofia. O termo “alma” está em contraposição ao termo essência, para falar da vitalidade ou dinamicidade do espírito que alimenta a filosofia. Há filosofia onde e quando se pergunta. A pergunta é a encarnação do espanto ou admiração com que Platão e Aristóteles intuíram o início do ato de filosofar. Por isso, a filosofia só podia ter nascida como amor à mãe, à sabedoria, à linguagem. A linguagem como acontecimento humano-temporal cria também o homem e o tempo ou seus equivalentes, a cultura e a história. Decorre, portanto, que o homem nasce como pergunta. Alerta-nos Wittgenstein que a linguagem exerce um “enfeitiçamento de nossa inteligência” e que a batalha da filosofia consiste no enfrentamento deste tutoramento pela linguagem. Isto, colocado em outros termos, significa que o amor como pergunta fonte do filosofar foi sendo transformado no amor às idéias. E a filosofia deslocou sua habitação do lugar do perguntar, transformando este ato diverso, múltiplo, aberto e inacabado num conjunto de respostas reduzindo a si mesma a um conjunto de conhecimentos e métodos. Pretende-se mostrar como, conforme análise genética de Dewey, a filosofia se tornou um instrumento do poder, legitimando certas formas e usos da linguagem em função dos interesses instituídos. Dewey denunciou a tarefa legitimadora da filosofia na sacralização em termos de linguagem mais requintada daquilo que veio a se chamar de cultura e nela as “verdades” ou “certezas” que sustentam certa ordem política. Criou-se assim, uma filosofia espectadora, amparada em dualismos que delimitam as classes sociais numa historicidade repetida. A proposição do autor é a reconstrução da filosofia, retornando seu trabalho a partir da experiência problemática. A pergunta é a força motriz da atividade do pensamento, configurando-se num hábito a ser aprendido, sobretudo pela educação, para operar em todas as experiências da vida. Assim, a pergunta constitui a mais original fonte do interesse, de coragem e liberdade porque se liga à necessidade de interpretar o mundo e dar sentido à experiência. Lipman corrobora com a interpretação de Dewey sobre a importância do pensar indagador na educação. Para Lipman, a prática da pergunta numa educação filosófica deve abranger todos os níveis educacionais. Assim, sua proposta pedagógica é de criar comunidade de inquirição, ambiente no qual os perguntadores vão desenvolvendo esta capacidade necessária para a excelência do pensar em todas as dimensões da vida, especialmente para a vida livre e democrática.


Palavras-Chave: Educação filosófica, pergunta, Dewey, Lipman, experiência de pensamento.



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Referencias


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