Biopolítica e educação: A medicalização como dispositivo normalizador

Fabiola Colombani, Raúl Aragão Martins, Alonso Bezerra de Carvalho

Resumen


O presente trabalho é resultado da pesquisa de doutorado concluída recentemente e que aborda o tema da medicalização como uma problemática a ser enfrentada na realidade escolar. Os processos de patologização se fazem presentes na modernidade desde o movimento higienista, dando início a manobras de domínio ao corpo em que a educação e a saúde passam a regular os padrões de comportamento para controlar o corpo-organismo. Com o advento de sociedades regidas pela normalização e, portanto, por um biopoder, vemos um sistema de massificação dominado por condutas que não perdoam a infância, atravessam os muros da escola e escamoteiam as desigualdades transformando-as em doenças. Respaldados por uma visão hegemônica, tal conduta resulta em tratamentos que individualizam e estigmatizam o aluno, articulando biopolítica à educação, o que sustenta uma maquinaria proveniente de uma tecnologia política que domina e abre brechas para a governamentalidade. Na procura por solucionar os problemas que emanam do âmbito escolar, desloca-se de uma discussão político-pedagógica e buscam-se soluções rápidas em tratamentos clínicos e medicamentosos, por meio de um reducionismo absoluto que culpabiliza, rotula, estigmatiza e pune o aluno. Assim, este trabalho tem como objetivo problematizar e discutir à luz da teoria genealógica de Foucault essa visão biologizante que se tem do aluno, principalmente na infância, em que a escola ao invés de respeitar as subjetividades por meio de um viés socializador, parte para condutas policialescas “em defesa” de uma sociedade que desconsidera as relações interpessoais e se posiciona como um aparato regulamentador. Para isso, buscaremos refletir à luz da teoria genealógica de Foucault, que embora faça uma crítica a escola moderna, a considera como instituição que poderia desenvolver a importante tarefa de esclarecer e emancipar o homem, dando-lhe condições de construção de sua liberdade moral.

Palavras-chave: Medicalização, Biopolítica, Educação


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