Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?: Uma utopia kantiana?

Fabio Batista

Resumen


Este artigo é parte da pesquisa em andamento no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Toledo. Pesquisa cujo tema é as utopias do Século das Luzes em Bentham e Kant, respectivamente, utopia-panóptico e utopia-esclarecimento. Na qual temos como hipótese que a utopia de Bentham reforça a menoridade, a sujeição, a utopia kantiana, pelo contrário, exorta a saída da menoridade. Portanto, duas utopias do Século das Luzes com objetivos que se opõem. No entanto, neste artigo faremos apenas uma exposição da utopia-esclarecimento juntamente com os motivos para assim compreendê-la. Acreditamos que o caráter utópico do texto de Kant pode ser assim compreendido. Primeiro: o esclarecimento é a saída da menoridade. Menoridade que é a incapacidade de servir-se de seu próprio entendimento sem a condução de outrem. Da qual ele (homem) é o responsável, “se a causa da mesma não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para se servir de seu próprio entendimento sem a condução de outrem” (KANT, 2011, p. 23-24). Segundo: vemos no decorrer do texto kantiano, após esta definição de esclarecimento, uma dupla condição para este: “Sapere aude! Tenha a coragem de servir de teu próprio entendimento! – este é, portanto, o lema do Esclarecimento” (KANT, 2011, p. 24). Isto é, a saída da menoridade, a emancipação, passa por uma modificação ético-espiritual: a transformação da vontade (“Sapere aude!”) e por consequência também a transformação da relação com a autoridade (Ousar saber e conduzir-se e não deixar-se conduzir sempre!). No entanto, não apenas o “Sapere aude!” é imprescindível para o esclarecimento, mas também a existência da liberdade mais inofensiva: a liberdade de se fazer uso público da razão (Cf. KANT, 2011, p. 26). Neste ponto vemos o caráter utópico de “Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento?”. Primeiro, pois, liberdade para quem? Para o cidadão enquanto erudito, letrado. A quem e como o cidadão, enquanto letrado, se dirigi livre e publicamente? Ao mundo letrado por meio da escrita. Portanto: utopia da sociedade letrada, do mundo letrado. Segundo: quem assegura politicamente está liberdade? O filósofo-rei ou rei-filósofo: utopia da coexistência do poder político com a sabedoria. Por fim, vale dizer: nosso artigo, como já indicado acima, aborda, sobretudo, o texto de Kant de 1784: “Resposta à pergunta: O que é esclarecimento?”, com o objetivo de mostrar de que modo podemos compreendê-lo como um texto utópico. Com este objetivo em mira mostramos também de que modo a utopia-esclarecimento é devedora daquilo que Foucault chama de atitude crítica.  

Palavras-Chave: Kant; Utopia; Esclarecimento.


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Referencias


BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros: curso no Collège de France (1982-1983). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

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GROS, Frédéric. Situação do Curso. In: FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros: curso no Collège de France (1982-1983). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 341-356.

KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: O que é esclarecimento? Rio de Janeiro: Via Verita, 2011.

PLATÃO. A República. 9ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.


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