Por uma docência criativa em tempos de regressão
Resumen
Quando considerada não apenas como um tipo de saber historicamente estabelecido, mas principalmente como uma atividade da inteligência, capaz de transformar, não apenas o modo como o ser humano compreende a si e o mundo, mas também a maneira como este constrói e age sobre a realidade, a Filosofia, enquanto filosofar, se converte numa experiência crítico-criativa do pensamento e da ação. À luz dessa compreensão, os processos de ensino e aprendizagem da Filosofia, independentemente do nível ou modalidade de ensino, buscam levar os sujeitos neles inseridos a terem um contato direto com uma “filosofia completa”, isto é, ao mesmo tempo teórica e prática. No entanto, por causa de um conjunto de mudanças impostas pela atual legislação educacional brasileira, o ensino filosófico no país corre série risco de novamente ser retirado do currículo escolar e ver o enfraquecimento de importantes conquistas, como, por exemplo, o contato dos jovens com a produção filosófica, a crescente familiaridade com os procedimentos reflexivos da Filosofia e o despertar do espírito crítico na juventude. A partir das reflexões acerca da filosofia da práxis de Adolfo Sánchez Vázquez e da filosofia como criação de conceitos de Gilles Deleuze e Félix Guattari, o texto reflete sobre a necessidade de se promoverem práticas e ações pedagógicas que sejam capazes de se contrapor e resistir ao atual momento de regressão que recai sobre o ensino de Filosofia, a partir da promoção de uma docência criativa. Dialoga com filosofias que ajudam a pensar na ideia de criação e na relação entre a prática filosófica e o exercício de criação, aplicados ao ensino e aprendizagem da Filosofia. Chama atenção para a necessidade de uma docência que se pauta em práxis criadoras capazes de ajudar a os mais jovens a fazerem a experiência de (re)criação de si mesmos e do mundo ao seu redor, como um exercício contínuo de discernimento criativo, a partir de novas formas (sub)versivas de ensinar que, operando por rizomas e desterritorialização do pensamento, produzem novas cartografias na educação, tendo como pano de fundo uma filosofia revolucionária, que consiste numa força de intervenção no mundo, ao tempo que resgata e promove a figura do professor-filósofo como alguém cujo traquejo com a Filosofia não apenas inspira e anima os mais jovens na prática do filosofar, mas que encontra nessa mesma prática sua maior fonte de criatividade e potencial filosóficos.
Palavras-chave: Ensino de Filosofia. Filosofar. Ensino Médio. Docência Criativa. Práxis.
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