O ensino de filosofia e o problema da representação

Américo Grisotto

Resumen


O que importa na filosofia não é sua única relação com a verdade, senão os distintos modos em que se orienta esta relação.  Daí o caráter problemático da ideia de representação, entendida por Deleuze, em Diferença e Repetição, como o lugar de um engano transcendental: cópia dos conceitos e dos problemas e imitação das ideias pela execução dos seus moldes, culminando no princípio de identidade, ou seja, no arranjo de que existam, supostamente, sujeitos pensantes idênticos. Nesta comunicação, envolvendo o ensino de filosofia, trazemos ponderações pela ótica de Gallo (2012), Pelbart (2013), de modo a equacionar este problema da representação, inclusive na maneira como são trabalhadas as relações entre subjetivação e dessubjetivação, filosofia e educação/formação na nossa realidade latino-americana, pois tanto na esfera política, quanto naquela das salas de aula, há sempre uma singularidade não representada, que não se reconhece, porque precisamente ela não é todo mundo, ou não é o universal. Pelo que defendemos, enquanto o ensino de filosofia estiver submetido às exigências dos modelos, operacionalizando o mesmo no pensamento através da identidade, do estatuto dos predicados, da analogia do juízo e da semelhança da percepção, não poderá ser pensado em si mesmo, isto é, como questão que concerne à própria filosofia. E neste aspecto, talvez, a estratégia de resistência à representação tenha que ser mais sutil, no sentido do que nos diz Deleuze na obra supracitada, de que tenhamos que partir, sim, da ótica mesma das instâncias representativas, mas tornando-as infinitas, orgíacas, de modo a fazer com que um pouco do sangue de Dioniso corra nas veias orgânicas de Apolo.

Palavras-chave: Ensino de Filosofia. Representação. Subjetivação/Dessubjetivação. Experiência do pensamento.


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Referencias


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