Escola pública: resistência em tempos de dissolução

Waldênia Leão de Carvalho

Resumen


Este texto reflete acerca dos ataques enfrentados pela escola pública e as estratégias de resistência realizada pelos alunos. As ocupações das escolas públicas brasileiras no ano de 2016 marcam um movimento de luta contra o congelamento dos gastos públicos e a reformulação do currículo do ensino médio. A escola, espaço institucional, que desde sua origem grega nasce rompendo com a ordem “natural” das coisas e das pessoas a partir da cisão com um modelo hierarquizado e excludente. Implementa um modo diferente de agrupar os jovens, instaurando um tempo diferente daquele reservado a juventude, um tempo livre. Nas palavras de Masshelein e Simons, tempo não produtivo para aqueles que por nascimento e seu lugar na sociedade não tinham direito legitimo de reivindicá-lo. Assim, a escola torna a experiência educativa democrática na medida em que passa a promover o tempo igualitário. Preservar essa prática democrática, que pode ser vivenciada na escola, requer resistência e acima de tudo preservação das conquistas sociais fruto da mobilização social. Como nos lembra Gentili e McCowan, a mais cínica forma de confirmar o fracasso de uma instituição é exigir que ela faça aquilo que não pode, não deve ou não consegue fazer. Por isso, resistimos no pedagógico. Lutamos para garantir que a cisão entre a vida e o conhecimento [científico] não seja desfeita. A acusação de que a escola é um lugar contaminada pela ideologia, esquece que o espaço do escolar é lugar de informação, conhecimento, argumentação, reflexão. Trabalhamos com ideias, a escola é um lugar das ideias, que dialogam, que se confrontam, que se complementam.A organização dos alunos e professores demonstram que o trabalho de resistência busca vencer o poder que propõe instituir um modo de aprender cada vez mais alheia à vida e as demandas de seu povo.

Palavras-chave: Escola; Resistência; Democracia; tempo livre


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Referencias


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