O retorno da cicuta e a urgência de voltarmos à Ágora

Resumen

Sócrates foi acusado de ensinar aos jovens de modo a corrompê-los, e de negar os deuses da pólis na pretensão de introduzir novos deuses. Foi julgado e condenado à morte por ingestão de cicuta em Atenas no século IV a.C. Durante seu julgamento, um de seus acusadores, Meleto, afirmou que qualquer ateniense seria capaz de tornar os jovens melhores, exceto Sócrates. Mesmo não definindo o que o filósofo fazia para corromper a juventude, insistiu na acusação, mas terminou por se contradizer quando Sócrates invalidou seus argumentos por redução ao absurdo. Atualmente no Brasil segue em ascendência, um movimento político com características opressoras, autointitulado Escola Sem Partido. Tal movimento pretende lutar contra o que chama de doutrinação política, ideológica e moral presente nas escolas, estigmatizando professores como doutrinadores. Os autores do projeto anunciam em página da internet criada para promoção do mesmo, que “professores de todos os níveis vêm utilizando o tempo precioso de suas aulas para ‘fazer a cabeça’ dos alunos sobre questões de natureza político-partidária, ideológica e moral”. A proposta do projeto, se transformada em Lei, pode resultar na proibição de componentes curriculares relativos a questões de gênero, História, cultura afro-brasileira, política, moral entre outros. Profissionais da educação que a descumpram poderão ser advertidos, notificados e até exonerados. Sócrates foi considerado perigoso por parte da sociedade ateniense, por atrair para sua companhia, jovens dedicados ao exame de si e dos outros, além da reflexão e compreensão do que é real. Assim, contrariou os interesses da elite conservadora da pólis, que percebeu o enfraquecimento de sua hegemonia diante da falta de argumentos para os questionamentos do filósofo e seus discípulos. A situação de professores no Brasil assemelha-se a de Sócrates, quando deputados e senadores valem-se de seus cargos para criação de projetos que atacam a prática docente. Este texto busca verificar pontos de semelhanças entre as acusações inferidas a Sócrates, tais como se encontram descritas nos diálogos de Platão, e as justificativas do Projeto Escola Sem Partido.

Palavras – Chave: Sócrates. Escola sem partido. Educação.