Filosofia da educação, o cuidado de si e do outro e o agradecimento à asclépio

Carlos Roberto da Silveira, Márcia Aparecida Amador Mascia

Resumen


Este artigo é parte dos resultados das pesquisas empreendidas no Grupo de Pesquisa, Estudos Foucaultianos e Educação (GPEFE) da Universidade São Francisco-Brasil. As análises têm por aportes, referenciais teóricos filosóficos da antiguidade grega, em especial Platão através das obras Críton, Fédon e Fedro e, avança por entre os contemporâneos como Nietzsche em Crepúsculo dos ídolos ou a filosofia a golpes de martelo (O problema de Sócrates) e Gaia a Ciência (Aforismo 34 - Sócrates Moribundo). Em Foucault, aqui é importante as Aulas do Curso no Collège de France (1983-1984), cujo referencial consta na obra A coragem da verdade. O governo de si e dos outros II, sendo o material de nossa pesquisa a “Aula de 15 de fevereiro de 1984 - Segunda hora”, na qual Foucault trabalha a parte II da obra de Georges Dumézil intitulado Le moyne noir em gris dedans Varennes (O monge negro vestido de cinza em Varennes) dedicado a Platão, em especial sobre as últimas palavras de Sócrates, sobre o tão enigmático pedido à Críton (Fédon).  Foucault no início do curso, em fevereiro de 1984, revela que não pode começar o seu curso no começo de janeiro, pois estava “doente, doente mesmo”. Nesse livro, Foucault parece refletir muito o seu momento presente, a doença, a cura. Curas da alma? Do corpo? Analisa o discurso de Sócrates sobre a moral, a ética, a parrhesía, a existência, a imortalidade da alma, exatamente quando esta trata a temática que envolve a morte. Como sabemos, meses depois dessa referida aula, Foucault falece no dia 25 de junho de 1984. Enfim, uma coisa é certa, todos aqueles que leem a obra Fédon fiquem depois a repensa-la. Em particular, desde de que tivemos um novo contato com esta obra de Platão, indagávamos sobre o que Sócrates queria dizer com este “enigma” – “Devemos um galo a Asclépio”. Inesperadamente surgem perguntas, como: o porquê da dívida com Asclépio? Seria mesmo, “devemos” (Sócrates, Críton, demais, ...), ou “devo” (Sócrates)?  No entanto, a cada nova leitura, as perguntas se renovam e outras surgem aos poucos: Sócrates foi curado? Curado de que doença? Doenças? Quem mais se curou, além de Sócrates? Qual ou quais livros de Platão poderiam, quem sabe, esclarecer o enigma? Quem era o deus Asclépio? Em que momento Asclépio tornou importante para os helenos? Qual a simbólica do galo para os atenienses? Existe algum legado através desse enigma que possa nos ajudar de alguma forma a nos educar e educarmos? Tais leituras podem ser importantes para a esfera da educação? Sabemos que na história do pensamento filosófico ocidental, muitas perguntas já foram feitas e respostas foram tecidas. No entanto, se se aproxima novamente da referida obra, novas perguntas se vertem e ficam a jorrar insistentemente e daí, cobra-nos novos exames, somos exigidos a isso e os fazemos, pois de alguma forma, pensamos que tal desfecho implica-nos, incomoda-nos diante das nossas “verdades estabelecidas”. Assim, somos perturbados, incomodados por um zumbido advindo do tavão que nos cobra o dinamismo do viver e agir, pois como dizia Sócrates, “ A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida”.

Palavras-chave: Filosofia da educação, Parrhesía, Epimeléia heautoú.


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