Afinidades metafísico-teológicas entre Max Horkheimer e Emanuel Levinas

Sinésio Ferraz Bueno

Resumen


A história da filosofia no século XX foi marcada decisivamente pelo aparecimento de correntes de pensamento profundamente influenciadas pelos acontecimentos trágicos ocorridos nas décadas de trinta e quarenta. A segunda guerra mundial, o holocausto judeu e a bomba atômica foram episódios personificadores da mobilização da razão como instrumento de propagação sistemática da barbárie. Sob a égide do cálculo instrumental e da administração biopolítica de gigantescos contingentes populacionais, a racionalidade deixou de justificar o otimismo iluminista dos séculos anteriores, motivo pelo qual a filosofia passou a dedicar-se à crítica das próprias estruturas da razão. Nesse contexto histórico, a Escola de Frankfurt dedicou-se a uma crítica interna e dialética, focalizando a articulação dialética entre progresso e regressão como qualidade intrínseca à racionalidade. Essa modalidade reflexiva, representada principalmente por Theodor Adorno e Max Horkheimer, apontou os elementos regressivos da razão, com vistas à incrementação de potenciais autoreflexivos que pudessem reverter o trajeto de recaída na barbárie.

O presente artigo destina-se a analisar as afinidades de natureza ética entre dois pensadores que ao longo do século XX dedicaram-se à crítica da racionalidade assentada na hegemonia de um sujeito soberano e universal. O primeiro deles, Horkheimer, foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento conceitual da teoria crítica da sociedade, assumindo em seus escritos a perspectiva de crítica interna à racionalidade. O segundo pensador, Emanuel Levinas, desenvolveu um pensamento voltado para a crítica da centralidade da ontologia no âmbito filosófico e pela valorização da alteridade, tarefas reflexivas típicas de um estilo crítico externo à razão. A tentativa de aproximação aqui proposta não desconsidera que os dois autores mobilizaram aparatos conceituais amplamente distintos em seu trabalho filosófico. Horkheimer assumiu uma perspectiva crítica dialética focalizada nas contradições da razão, aspecto suficientemente evidenciado em duas de suas obras mais consagradas: Dialética do Esclarecimento, produzida em parceria com Adorno, e Eclipse da razão. Levinas desenvolveu reflexões questionadoras do reducionismo ontológico e racional amparadas em grande parte no pensamento de Husserl e de Heidegger, descartando o método dialético. Malgrado significativas assincronias metodológicas, em sua obra madura, ambos os pensadores assumiram uma perspectiva ética metafisicamente fundamentada e fortemente ligada à teologia. O viés metafísico-teológico no trabalho dois pensadores será o tema central do presente trabalho. 

Palavras-chave: Teoria Crítica. Horkheimer. Levinas. Metafísica. Teologia


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Referencias


ADORNO, T.W. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento – fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.

HORKEIMER, M. Anhelo de justicia – teoria crítica e religión. Madrid, Editorial Trotta, 2000.

__________ Eclipse da razão. São Paulo, Editora Unesp, 2015.

LEVINAS, E. Entre nós – ensaios sobre a alteridade. Petrópolis, Vozes, 1997.

__________ Totalidade e infinito. Lisboa, Edições 70, 2016.


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