A inteligibilidade do olhar: considerações sobre o cinema e a educação
Resumen
O presente artigo vista trazer algumas contribuições de ordem estética para a compreensão do fenômeno educativo, entendo enquanto processo de inserção numa dada cultura e de produção de um modo de ser. Parte-se do pressuposto da necessidade de uma transformação da relação com a realidade e da inserção desta transformação em nossos itinerários educativos. Esta metamorfose do comércio com o real passa por uma outra maneira de torná-la inteligível, o que acreditamos ser possível através do olhar. Este objetivo se materializa pelo aporte com o pensamento de Merleau-Ponty sobre o cinema, cruzando-o com algumas teorizações acerca da imagem elaboradas por Bachelard, Didi-Huberman e Edgar Morin. Inicia-se a reflexão a partir da compreensão merleau-pontiana da inserção no mundo sensível pela existência incorporada, a qual, tendo no movimento o orientador desta ancoragem no mundo e de sua consequente produção de sentidos. Em seguida, recupera-se o movimento das imagens no cinema como operação de direção do olhar e envolvimento empático do espectador. Ao fazê-lo, o cinema exige um envolvimento que suplanta uma sintaxe previamente dominada, pondo o espectador num novo regime de inteligibilidade, marcadamente sensorial e que solicita, por isso, novos modos de compreender a realidade, modos estes marcados por uma inteligibilidade eminentemente visual. Finaliza-se ressaltando as implicações da necessidade de aprender a olhar, tarefa que passa por uma educação da corporeidade e da sensibilidade, com vistas a ampliar os horizontes de conhecimento e as partilhas sociais e afetivas em todos os domínios da existência, inclusive na promoção de outras possibilidades de se compreender a produção do conhecimento na educação e dos processos de subjetivação por ela impulsionados.
Palavras-chave: Inteligibilidade; Olhar; Cinema; Imagem; Corpo.
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