“Devemos livrar o pobre papalagui, tão confuso, da sua loucura!” Uma busca da experienciação do tempo escolar através da filosofia
Resumen
Papalagui é o homem branco que emprega todas as suas forças para alongar o tempo que tem, não percebe que do nascer ao pôr-do-sol, tem mais tempo do que é capaz de usar e queixa-se da experiência que tem de seu tempo. A experiência, que é nada mais, nada menos que, nas palavras de Larrosa, “isso que me passa”, significa também que é algo que é independente de mim, não faz parte de minhas representações, nem de meus sentimentos, meu poder ou minha vontade. A experiência é por assim dizer, algo que não sou eu, algo que não faz parte de meus sentimentos, pensamentos, não faz parte do que eu quero e ainda assim, acontece em mim. Experienciar o tempo é algo muito subjetivo, não significa apenas que os tempos sejam diferentes, mas que a experiência do passar do tempo, do correr dos ponteiros em nós, em nossas vidas, nossos movimentos, produz diferentes significados. Quando falamos sobre o tempo, invariavelmente pensamos no tempo chrónos, no tempo kairós e no tempo aión, não significa que sejam três tempos diferentes, e sim, diferentes maneiras de lidar com o tempo. O tempo chrónos está relacionado com a linearidade dos acontecimentos, com a sequência, é o tempo cronológico, passível de medida, possui um princípio e um fim. O tempo kairós é o tempo da oportunidade, do acontecimento de coisas especiais, é um tempo para conversar, para amar, para ler, significa que há um tempo para tudo na vida. O tempo aión não possui uma medida precisa, é o tempo da criatividade onde as horas não passam cronologicamente, é a duração do tempo da vida humana, da experiência, é a manifestação subjetiva do tempo chrónos. Ao conhecermos essas variáveis perceptivas do tempo, chegamos à questão: o tempo é experienciado igualmente em todas as situações da vida? A subjetividade da experiência com o tempo dentro do ambiente escolar se corporifica através das diferentes sensações experienciadas pela aceleração ou a desaceleração do tempo, de acordo com as atividades que praticamos. Percebemos que o tempo do relógio não é o mesmo para nossas diferentes emoções e pensamentos e que a fragmentação do tempo, muitas vezes nos distancia da concretude da vida e nos perguntamos, o que pode, então, a Filosofia? O afetamento da noção de tempo no Ensino de Filosofia nos incita em falarmos de conscientização no Ensino na Atualidade. Uma conscientização no sentido puro, em que não nos apoiemos em verdades pré-estabelecidas, nem num ato que termina e que ordena. Repensar a lógica de viver a espacialidade do tempo que enclausura, e que pouco pensa sobre si mesmo. O tempo e o Ensino de Filosofia se interpenetram; mas, pouco nos perguntamos sobre nosso tempo através das questões que inculcam nosso ser, fazendo do nosso pensamento movente. Pouco nos movemos rumo à autocrítica, nos fincamos no ontem. Neste fincamento, o Ensino de Filosofia pouco se move. Mover-se significaria pisar na areia movediça da incerteza. É deixar a repetição e proporcionar a criação. Uma poética da Filosofia.
Palavras-chave: experiência; tempo; filosofia.
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