Aproximações à relação entre os fenômenos da educação e de ser humano

Resumen

Procuramos descrever o modo de ser do ser humano, de forma que esse mostre e justifique o fenômeno da educação, numa aproximação entre Antropologia e Educação. A educação é um procedimento e um processo que se enraíza no modo como somos enquanto humanos. Somente somos educáveis porque nosso ser assim o constitui e permite. E como somos, de modo que a educação faça parte da nossa vida e, mais do que isso, nos constitua enquanto humanos? Aquilo que somos tem a ver com a educação. Educação e ser humano se implicam mutuamente. Ou seja, o ser humano não é ser humano sem a educação, como pretendemos mostrar. E a educação não faz sentido se não for relacionada a um ente educável, aberto em seu ser. Daí a possibilidade de mostrar a raiz da educabilidade do homem na diferenciação com os animais. O animal não necessita da educação para ser o que ele é por ser determinado e fechado no seu ser desde o princípio. Um animal não se torna outra coisa do que já é. O animal não se torna outro a partir da convivência com animais de outra espécie ou com o ser humano, enquanto o humano pode ser outra coisa dependendo da convivência ou educação que tiver. O ser humano pode se tornar um lobo, enquanto que o lobo não pode se tornar humano, por mais esforço que se faça para educá-lo. O ser humano precisa ser educado para ser o que ele é ou deve ser, não nasce sendo o que ele deve ser (segundo o projeto histórico dentro do qual ele nasce). Nós, humanos, somos aquilo que aprendemos a ser, aquilo que nosso tempo nos instrui em termos de comportamentos, compreensões, conhecimentos, valores, desejos, expectativas, juízos. O mundo é e somos neste mundo a partir de uma aprendizagem historicamente delimitada, dentro de um projeto finito. Em resumo, o que faz o ser humano e a educação elementos interdependentes é o fato do ser humano ser aberto no seu ser, melhor dizendo, não ser mas existir, diferente dos animais que naturalmente são o que são, fechados em si mesmos. Perguntar pelo ser do ser humano exige confrontar-se com o seu não ser, com a sua existência (com seu ser possível), com a sua abertura para ser, para sua educabilidade. E educação é o instrumento que inventamos para introduzir cada novo ser humano no dever-ser humano do seu tempo. A questão que segue é então se não se pode questionar os projetos históricos, do dever-ser humano, dentro dos quais o ser humano é educado? Se são historicamente construídos, os modos de ser humano estão sempre relacionados a interesses ou um jogo de forças entre ideias que se impõe e se sucedem no tempo.  Esperamos que o resultado dessa compreensão seja uma consciência menos determinada pelas contingências históricas, mais livre para a criação de si mesmo e de novos projetos coletivos. Que possa ajudar a pensar nosso ser e projeto latino-americano de humanidade.

PALAVRAS-CHAVE: Antropologia, Educação, Abertura, Possibilidade.