Por uma educação sem profundidade
Resumen
A tradição ocidental faz com que se dê importância às essências, que estão em algum fundo, dentro dos seres e que desprezem as aparências, aquilo que se vê, que se sente e se deseja. Isso se dá pela herança deixada pelo pensamento de Platão assim como pelo racionalismo de Descartes, que remontam à filosofia de Parmênides, da cisão entre o ser e o não-ser. A importância da profundidade é tanta que chega ao ponto de se tornar um mito contemporâneo, algo que se aceita sem questionamentos, “uma fala”, segundo o filósofo e semiólogo francês Roland Barthes, que transforma algo histórico em natural e, portanto inexorável, é, assim, “uma fala despolitizada”. O presente artigo continua conectando ideias heterogêneas em busca de agenciar pensamentos que possam contribuir para a problematização da ideia de educação como geradora de uma maior profundidade no conhecimento que os estudantes possam ter do mundo. Nietzsche faz a crítica da ideia de uma certa interioridade que o homem moderno cria para si como uma segunda natureza, um fundo, uma profundidade na qual esse homem colecionaria toda espécie de cultura reproduzida de outros tempos e lugares. Nada de vivo há na cultura europeia moderna, nada que leve à ação criadora de novos valores. A partir disso este trabalho passa a desenvolver uma ideia de uma educação sem essa profundidade das “enciclopédias ambulantes” nietzschianas. Uma educação que considere a vida como movimento de criação, que opere a partir da elaboração de problemas que movimentem o pensamento. Isto estaria mais de acordo com a filosofia de Heráclito que não faz cisão entre o ser verdadeiro da profundidade das essências e o não-ser falso das aparências, para ele o ser é o não-ser na medida em que tudo flui, o devir é a própria substância do universo. Trata-se de uma educação sem profundidade como busca de criação de novas formas de vida, de novas formas de pensar.
Palavras-chave: educação, resistência, profundidade, devir, criação.Texto completo:
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