Uma luta histórica, um contexto atual: a proposta pedagógica do MST

Douglas Gomes Nalini de Oliveira

Resumen


A concentração de terras no Brasil, a partir da lógica do latifúndio, remonta desde o começo da era colonial. A mecanização do campo, última faceta deste mesmo processo, é fortemente estimulada pela lógica das Monoculturas, e encontrou na ditadura militar as condições favoráveis para seu desenvolvimento. É neste contexto que surge o MST, que representa um novo processo de luta no país. Oliveira (1996) destaca que o embate agora é para permanecer na terra, construindo um futuro baseado na negação do presente, realizando não somente a crítica, mas propondo novos modelos de produção.

Contra o agronegócio, que implica na utilização de diferentes insumos nas colheitas, propõe a Agroecologia como um projeto mais sustentável. Como aponta Stedile (2012), o que existe hoje de reforma agrária no país vem deste movimento. A educação se relaciona com a maneira como os sujeitos aprendem, ou seja, desenvolvem suas potencialidades dentro de determinada prática social, é um processo de entrar em contato com o outro, com a natureza e o trabalho, de modo a modificar ou reafirmar determinado comportamento. Diferentes práticas de ensino envolvem diferentes saberes, culturas e expectativas. A partir da análise do Plano de Estudos das Escolas Itinerantes do Paraná (Lurczaki et al., 2013), observamos algumas características determinantes na pedagogia do Movimento, como a preocupação com a vida em comunidade e a percepção do ambiente como a unidade complexa entre homem e natureza, buscando problematizar a visão que dicotomiza estes dois.

Sua critica se baseia, sobretudo, ao forte distanciamento entre os conteúdos de ensino e a realidade objetiva, que instaura um movimento de artificialização das escolas. De natureza Interdisciplinar propõe não uma discussão sobre o fazer, mas a inclusão da escola na prática social, procurando uma nova forma de organização do trabalho escolar. Está comprometida com a igualdade social e a participação plena das pessoas, interessada em formar seres humanos mais dispostos a serem lutadores, a partir da construção de novas relações sociais a começar pelo assentamentos onde vivem. Sobre uma concepção histórica, materialista e dialética, procura intencionalizar as práticas para a criação de objetivos e estratégias. A cultura, considerada como a experiência humana de participação no trabalho e organização coletiva se traduz no modo de vida, que produz e reproduz conhecimentos.

Lévi-Strauss (2011) nos ajuda a vislumbrar, a importância de se aprender com os outros e buscar melhores maneiras de lidar com o mundo. Neste sentido, a “cultura” não poderia ser abandonada, como destaca Sahlins (1997), sob a pena de deixarmos de compreender o fenômeno único que ela nomeia e distingue: a organização da experiência e da ação humana por meio de símbolos. Diferentes formas de vida podem servir de ferramenta para atacar os processos de dominação, assim, a valorização da cultura apareceria como uma antítese de um projeto colonialista de estabilização, uma vez que os diferentes povos a utilizam não apenas para marcar sua identidade, mas também para retomar o controle sobre seu próprio destino, criando um movimento paradoxal de enriquecimento da cultura tradicional que acompanha a interação da economia global.

Palavras-chave: Cultura, Pedagogia contra-hegemônica, Movimentos Sociais, Questão Agrária.


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Referencias


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