Educação e ética: o desafio de formar sujeitos éticos

Nilo Agostini, Luzia Batista de Oliveira Silva, Carlos Roberto da Silveira

Resumen


Este artigo objetiva discutir sobre a importância da educação e da ética na formação dos sujeitos. Discute-se a condição humana e como esta se constitui numa propositura ética, possibilitando a integralidade do ser humano, considerando a complexidade como uma não disjunção do pensamento e da ação, a formação dos valores na Paideia grega, a necessidade de educar o homem em Kant, a educação para e nas classes sociais em Benjamin, a ética e o vital humano como elementos fundamentais para a educação como processo ético; destaca-se o ethos como o elemento primitivo na compreensão primeira sobre a ética e seu papel de proteção à vida, ao vitalismo humano; discute-se também a emergência de um sujeito ético como objetivo primeiro na educação, considerando a contribuição da filosofia clássica à filosofia contemporânea. Fica claro que a ética não pode ser negligenciada na formação dos sujeitos e na esfera da educação; ela é parte do processo formativo.

A ética é parte da arquitetura do ser humano, perpassando toda a sua vida através dos diferentes elos do instituído; ela já aparece como elemento primeiro – o ethos – tonando-se presente desde a raiz mais profunda do ser humano, ou seja, ela compõe o que se nomeia de “arqueologia social”. Investir no desenvolvimento da capacidade ética do ser humano representa investir na sua capacidade crítica, reflexiva e de discernimento, sendo este capaz de interpretar, enquanto sujeito ético-crítico, sua própria existência nas circunstâncias históricas em que vive. Disto resulta que o ato de educar necessita ser todo atravessado pela ética, enquanto forma sujeitos éticos, lastreados na liberdade, na autonomia, na responsabilidade. A ética ocupa um lugar de transversalidade em todo o processo educativo e garante a emancipação e a autonomia dos sujeitos, alimenta a solidariedade, com a clareza de que a vida necessita ser defendida, especialmente lá onde a dominação e a brutalidade a ceifam e/ou a oprimem. Apontaremos para a construção ética das práticas e do discurso, indispensável em todos os processos de ensino/aprendizagem.

Ética e educação agem como polos concêntricos, fazendo com que a ética esteja presente no currículo e em todo o ensino e aprendizagem. Há entre eles uma relação de pertinência inclusiva. Sendo fundamental para a formação do sujeito ético, a ética é compreendida como presença transversal em todo o processo de uma educação crítico-libertadora. Garante o cultivo integral do humano em suas diversas dimensões, superando movimentos fragmentados ou miniaturizados no processo de personificação e de construção social, apontando igualmente para os deslizes quer da dispersão das ciências quer de uma preparação puramente técnica e funcional.

A ética mantém e garante a dignidade humana, funda as raízes de sustentação desde o seu ethos, lastreia a vida com valores e tece laços comunitários e sociais perpassados pela responsabilidade, solidariedade e justiça. Faz da escuta do pobre, do oprimido, um convite para travar um olhar face a face que nos convoca para uma relação práxica de ação e reflexão, de reflexão e ação, urgidos que somos para a urgente transformação do mundo, aliando engajamento político e ação transformadora. Todo esse processo tem na dinâmica da alteridade o seu húmus, num crescer e viver com o outro, num aprender com ele, num partilhar com o outro o mundo na justiça.

Palavras-Chave: educação, formação ética, sujeito.


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