O desenho e as palavras no filosofar: possibilidades de outros lugares para a leitura, a escrita, a fala e a escuta do mundo

Paula Ramos de Oliveira

Resumen


O presente trabalho pretende apresentar e pensar uma experiência do Grupo de Estudos e Pesquisas Filosofia para Crianças (GEPFC). A filosofía, enquanto trabalho do pensamento, é também trabalho com as formas expressivas, especialmente a oral e a escrita. Entretanto, em tempos de empobrecimento de experiência e administração do pensamento, torna-se cada vez mais comum, inclusive nas aulas de filosofía, a repetição do pensamento do outro e a adesão à leituras de mundo que não são as nossas. O fazer filosófico instaura uma dimensão educativa e a Educação instaura uma dimensão filosófica. Porém, às vezes deixamos que o campo pedagógico tome uma presença exagerada nas aulas de filosofia, demarcando com rigidez esses lugares já conhecidos da relação professor e aluno. A filosofia é um modo de ler o mundo, mas há muitas filosofias e, portanto, muitas formas de se ler. Mas o mundo pode ser lido de diversas maneiras e ler diferentemente o mundo nos coloca diante do mundo diferentemente também. E isto nos coloca, seguramente, diante de muitos mundos possíveis, diante de muitas possibilidades de mundo. Neste sentido, em nossas reuniões resolvemos experimentar uma nova experiencia de leitura e escrita do pensamento. Resolvemos dar outro tempo às palavras e chegar a elas de outra maneira, introduzindo uma nova forma expressiva: o desenho. A cada reunião uma letra de “O Abecedário de Deleuze”. Os membros do grupo fazem a leitura individual em casa e pensam em como representar o seu pensamento acerca da leitura realizada. É preciso sair da palavra e ir ao desenho para somente após este distanciamento voltar à palavra. Esse exercício nos coloca em outro lugar no fazer filosófico e em sua dimensão educativa, bem como em outra relação com as palavras. Chegar a elas somente após o desenho significa nos demoramos no que pensamos em um movimento contrário à velocidade do cotidiano que nos leva a uma relação rasa e irrefletida com a palavra. Na reunião do grupo temos a leitura coletiva e cada um apresenta seu desenho e conta como chegou a ela. Instaura-se entre nós uma outra escuta e uma outra fala conosco e com os outros, porque cada um faz da filosofia e do filosofar um caminho próprio para ler e escrever o seu próprio mundo,  para ler e escrever o mundo de seu próprio jeito, trazendo filosofia à própria vida e vida à filosofia. Isso, por sua vez e curiosamente, somente se torna possível por uma espécie de abandono de nós mesmos na experiência da leitura para que possamos chegar diferentemente até nós. O filosofar exige a expressão do pensamento, seja para nós mesmos, seja para o outro, e essa experiência nos lança em direção a nós mesmos e em direção ao outro que está junto de nós nessa leitura do texto, da filosofia, da vida.  Esse fazer filosófico implica uma escuta e uma leitura de mundo visceral e também autoral e é o exercício da escuta e da leitura que nos permite falar e escrever nosso mundo, a nossa vida, vivificando novas escutas e leituras do que somos todos nós.

Palavras-chave: filosofar; palavras; imagens; leitura; escrita; mundo.


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Referencias


DELEUZE, Gilles. O abecedário de Gilles Deleuze. Entrevista com G.Deleuze. Editoração: Brasil, Ministério da Educação, TV Escola, 2001. Paris: Éditions Montparnasse, 1997, VHS, 459min.

KOHAN, Walter Omar. Infância. Entre Educação e Filosofia. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2003.

LARROSA, Jorge. Apresentação. In: Pedagogia Profana: Danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2003. p. 7-18.


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