A terapia wittgensteiniana como esclarecedora de conceitos fundamentais do campo educacional

Cristiane Maria Cornelia Gottschalk

Resumen


Com a “virada linguística” a partir do final do século XIX, retomada de maneira inusitada pelo filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein em seus escritos da maturidade, boa parte das questões epistemológicas são “dissolvidas”, com implicações para a pesquisa educacional. Dentre elas, destaca-se a descrição gramatical dos conceitos fundamentais do campo educacional levada a cabo pelos filósofos analíticos da educação. Pretendo apontar para outras possíveis implicações, a partir da terapia filosófica de Wittgenstein que, a meu ver, possibilita um tratamento distinto da vertente analítica para as questões filosóficas da educação. Enquanto este movimento continua atrelado a uma concepção referencial da linguagem, a terapia wittgensteiniana leva em consideração a multiplicidade do funcionamento de nossas expressões linguísticas, esclarecendo confusões que se originam do uso dogmático de conceitos tais como os de ensino, aprendizagem, compreensão, avaliação, entre outros, prevenindo, assim, atitudes dogmáticas no campo educacional. Por exemplo, ao relativizar os pressupostos epistemológicos subjacentes a práticas pedagógicas, como também esclarecendo os usos que são feitos daqueles conceitos em teorias que se guiam pelo mito da eficiência, reduzindo o ensino à resolução de problemas demandados por uma sociedade que não é nem ao menos problematizada. Como se não houvessem “valores” subjacentes a estas demandas, que podem levar o mundo à ruína, e que poderiam ser outros. Um dos resultados da terapia, portanto, é o de revelar a natureza convencional das regras que seguimos para usar nossos conceitos em geral, uma vez que somos nós que atribuímos necessidade a elas. Em particular no campo da educação, este esclarecimento conceitual a partir da terapia filosófica aponta para práticas pedagógicas que não se reduzem a iniciar o aluno a nossa herança cultural, mas que tenham como preocupação central a formação de um aluno crítico que seja capaz de inventar novas regras, evitando-se, assim, os preconceitos oriundos de um uso dogmático de nossos conceitos.

Palavras-chave: ensino, aprendizagem, concepção referencial da linguagem, “virada linguística”, Wittgenstein.



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Referencias


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